O que posso fazer para mudar o mundo? questiona dom Murilo Krieger

Ao ser questionado sobre: “O que posso fazer para mudar o mundo?” O vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e arcebispo de Salvador (BA), dom Murilo Krieger, respondeu à pergunta em um artigo recém publicado.
Dom Murilo diz no texto que a pergunta supõe que o mundo precisa ser mudado e concorda com essa premissa e continua. Também eu não estou contente com o mundo em que vivo. Como estar satisfeito se a humanidade conseguiu globalizar a economia, as ciências, a arte etc., mas não conseguiu globalizar a solidariedade, a partilha e a justiça?
Para o arcebispo é preciso fazer alguma coisa. Na mensagem ele mesmo questiona. Mas o quê, se sou limitado e não tenho os poderes de um Presidente dos Estados Unidos, não sou o dono da Microsoft e nem consigo, nos meios de comunicação, o espaço de um Neymar? Diante da imensidão de desafios que encontro ao longo da vida, sinto, como qualquer cidadão, que também poderia ter a tentação experimentada por Severino, no poema “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto. A um dado momento, o retirante pergunta a alguém se vale a pena continuar vivendo, diante de uma vida tão severina. Ouviu, então, como resposta: é melhor lutar com as mãos do que deixá-las abandonadas para trás.
No texto, dom Murilo fala que a vida o ensinou que as grandes transformações do mundo nasceram de pessoas que tiveram a capacidade de sonhar grande e repartiram seus sonhos com outras pessoas que, por sua vez, os assumiram como seus. E segue: há sonho mais belo do que aquele que diz respeito a uma vida que seja melhor para todos e não apenas para alguns?… Tenho a convicção de que só conseguirei mudar o mundo se olhar o outro – isto é, cada pessoa –, como um irmão ou uma irmã. Se para Sartre “o inferno são os outros”, para mim os outros me completam, me enriquecem, me ajudam a conhecer meus limites e despertam em mim mil energias e criatividade.
O bispo continua, vivo num mundo que vê multiplicarem-se marcas de violência por toda a parte. Bem dizia um dos personagens de Guimarães Rosa, em “Grande Sertão, Veredas”: “Viver é muito perigoso!” Em contrapartida, animo-me com Dom Helder Câmara, com a afirmação que é como que um resumo de sua vida: “Feliz de quem tem mil razões para viver!”